domingo, 2 de setembro de 2007

Anotações urbanas eletrônicas e formas de resistência ao controle social


No Artigo Story space: A theoretical grounding for the new Urban annotation, publicado em 2006, pelo site First Monday, Rekha Murthy trata das possibilidades que as novas tecnologias trazem de um espaço de criação no qual você não fique submetido ao controle do estado e/ou das corporações. A autora ancora seu artigo nos pensamentos de três teóricos franceses, Henry Lefbvre (moderno), Jean Baudrillard (pós-moderno) e Paul Virilio (Hiper-moderno). Os três desenvolvem uma crítica a expansão da tecnologia como possibilidade de ter controle sobre a vida. Entretanto há especificidades no pensamento de cada um deles.

Abaixo alguns trechos de uma resenha que eu fiz desse artigo.

Lefbvre cria o conceito de espaço absoluto e espaço abstrato. O primeiro é o espaço rico em fantasia, é um espaço das sombras e dos símbolos onde os habitantes criaram suas próprias imaginações e explanações para o mundo em torno deles. O último é um espaço racional e dominado pelo estado. No espaço abstrato, o estado sistematiza e homogeiniza o espaço dentro das regras de conduta da economia e dos interesses estratégicos desses no poder. Para Lefbvre a homogeneização é o principal objetivo do Estado, mas ela nunca é absoluta. O Espaço absoluto e o espaço abstrato têm coexistido na sociedade, como resultado de esforços deliberados e não intencionais de indivíduos, corporações, governos e outras instituições para produzir eu próprio tipo de espaço. A autora fala que há uma tensão entre esses espaços, mas também há uma complementaridade entre eles, um bom exemplo é a tensão entre racional e simbólico, espaço religioso e espaço comercial.

Baudrillard fala que a vida simbólica e da natureza foram tomadas pelo espaço abstrato. Ele é mais radical que Lefbvre na crítica espacial da sociedade. Para ele, simbolismo e natureza têm sido separados tão fortemente de seus referenciais que as pessoas são deixadas inadvertidamente praticando o espaço abstrato mesmo quando elas buscam por alguma coisa absoluta. As próprias pessoas estão fazendo o espaço abstrato. Baudrillard cita como exemplo, o pacote de viagens da cidade para zonas rurais nos quais há uma busca por uma fantasia que é toda programada por uma agência de viagens.

Virilio diz está tudo perdido, pois há um controle da sociedade pelas tecnologias. O advento cada vez maior e invasivo das novas tecnologias, entre elas as tecnologias da comunicação e do entretenimento nas cidades do fim do século XX constituem o pior problema. Virilio em sua vertente mais pessimista aponta um determinismo tecnológico, embora ele em suas reivindicações otimistas tenha afirmado “eu não vou de encontro à tecnologia por si mesmo, mas de encontro à lógica atrás dela”. Os três pensadores franceses estão juntos no lamento da existência humana.

Para compreendermos melhor o pensamento da autora, é necessário diferenciarmos o espaço virtual do espaço geográfico. O espaço virtual é onde praticamos e produzimos eletronicamente. Ele tem se expandido com os computadores, mas não surgiu com eles. O espaço geográfico, então, seria a prática cotidiana não-eletrônica. No espaço virtual a compreensão da distância e do tempo é diferente do espaço geográfico.

Quando assistimos TV, ouvimos música, acessamos a Internet, utilizamos PDA´s, celulares estamos praticando o espaço virtual. Ele traz uma possibilidade de resistência a hegemonia, mas isso depende da inserção que a prática do espaço virtual tem no cotidiano do espaço geográfico. Um exemplo é a possibilidade que há no ciberespaço de romper os espaços abertos hegemônicos. Ao contrário de Lefbvre, Baudrillard e Virilio, Murthy vê espaços de esperança (resistência social) a esse controle. Para ela, a tecnologia pode ser um espaço de esperança e não de desespero. Murthy encontra dentro dos pensamentos desses teóricos franceses espaços para resistência como a possibilidade de criar novas realidades através dos usos que a sociedade faz das tecnologias em Virilio e o contra-espaço em Lefbvre.

Murthy trata da Anotação Urbana (Urban Annotattion) que é a criação sem ter uma aplicação pragmática a qual pode incentivar a arte da invenção sem que ela seja funcional ou esteja a serviço da eficiência, ou seja, um espaço de criação onde não fiquemos submetidos ao controle social, uma prática filtradora. Murthy cita como exemplos dos projetos de Notação Urbana, o Yellow Arrow e Urban Tapestries. Eles fundem criação de espaços com a tecnologia móvel.

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