terça-feira, 28 de agosto de 2007

Smart mobs e as mobilizações sociais nas metrópoles


Pelas ruas das cidades é cada vez mais normal a agregação de pessoas em um lugar, por um período curto de tempo sem uma causa aparente. O que a primeira vista pode parecer um movimento de pessoas desocupadas, na verdade é uma nova forma de manifestação social. Em Salvador, já ocorreram quatro manifestações desse tipo. Duas delas de caráter artístico e duas de caráter político.

Com a inserção das tecnologias sem fio, como o celular e as formas de conexão Wi-Fi, na arquitetura dos grandes centros urbanos abre-se espaço para novas práticas de mobilização social. A era da conexão generalizada relaciona tecnologia digital, mobilidade e comunicação para possibilitar novas práticas contemporâneas de agregação social, que reúnem em um local muitas pessoas, às vezes multidões, para realizarem um ato em conjunto e rapidamente se dispersarem.

Howard Rheingold em seu livro Smart Mobs, The Next Social Revolution (2002) define esse fenômeno como smart mobs. Segundo ele, “as smart mobs são mobilizações constituídas por pessoas que são capazes de agirem juntas mesmo sem se conhecer. As pessoas que participam dos smart mobs cooperam de maneira inédita porque dispõem de aparatos com capacidade tanto de comunicação como de computação.” Etimologicamente smart mob é uma multidão inteligente e em mobilidade pois smart significa inteligente, esperto e mob multidão, móvel, massa.

O conceito de smart mobs é muito amplo e engloba diferentes formas de utilização das tecnologias digitais móveis para várias finalidades. Desde um grupo de adolescentes ou jovens adultos que trocam mensagens de texto via celular para marcar encontros ou arrumar namoros – um exemplo no Brasil é a Comunidade Blah!, um serviço oferecido pela operadora de telefonia celular TIM, até indivíduos que se reúnem com o intuito de compartilhar o poder de processamento de computadores, que não estão sendo usados, para pesquisar inteligência extraterrestre.

Os dois tipos de smart mob mais conhecidas são as smart mobs políticas e as flash mobs (multidões relâmpagos), que são manifestações de caráter lúdico e hedonista, lembrando em alguns aspectos os happenings e perfomances. As flash mobs tiveram seu apogeu mundial em 2003, com algumas manifestações em diversas cidades brasileiras como Curitiba, São Paulo, Porto Alegre e duas em Salvador. Uma promovida pelo Hemoba ( com o objetivo de aumentar o estoque de bolsas de sangue, incentivando à doação de sangue. E a outra organizada pelo professor Dr. André Lemos da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia.

Para Júlio Valentim, Doutorando em Comunicação e Cultura Contemporâneas, na linha de ciberpesquisa, pela FACOM-UFBA, que trabalha em sua pesquisa com as smart mobs políticas, as quais são engajadas em mobilizações sociopolíticas - protestos políticos e campanhas de mobilização de votos em épocas de eleição. Ele denomina esse tipo de smart mob como mobilizações cíbridas, que “ são mobilizações sociopolíticas nas quais as tecnologias digitais móveis (computação portátil, telefonia celular e conexões sem-fio) são usadas – junto com o cibridismo urbano (conexão de redes off-line com redes on-line) que lhes dá suporte – para estabelecer a comunicação digital móvel e sem-fio entre seus participantes, permitindo que eles possam coordenar suas ações e fazer uma cobertura em tempo real dos protestos e das campanhas de mobilização de votos que organizam.”

Segundo Valentim, na Bahia já ocorreram duas smart mobs políticas. “O primeiro protesto foi organizado por estudantes que se mobilizaram contra o aumento da passagem de ônibus, e desembocou no que ficou conhecido como a "Revolta do Buzú", e o outro protesto foi organizado pelo Movac (Movimento Anti-cordial) para reivindicar esclarecimentos sobre o desparecimento de 101 milhões de reais que foram desviados dos cofres públicos para uma conta fantasma atrelada à estatal Bahiatursa e à agência de publicidade Propeg.”


Mobilização social via SMS


A tecnologia mais usada nas smart mobs é a disseminação de SMS. Através delas os participantes coordenam ações, tais como protestos, manifestações e campanhas para mobilização de votos em processos eleitorais. Ao contrário dos movimentos sociais tradicionais em que existe uma organização central na coordenação das ações e um líder, nas smart mobs as ações são coordenadas de maneira descentralizada e sem a existência de um líder. Além disso, nas smart mobs não é necessário um grande engajamento com uma causa. Basta apenas participar naquele momento, o vínculo é momentâneo, efêmero diferente dos movimentos sociais tradicionais onde é preciso ter um vínculo e um comprometimento com a causa defendida.

As smart mobs são imprevisíveis e ocorrem de maneira rápida e pontual. Para Valentim a grande novidade das smart mobs consiste nas apropriações sociais e política das tecnologias digitais móveis e, por conseguinte nos novos modos de coordenação de atividades em tempo real que emergem nesse novo cenário urbano permitindo a integração entre as redes infra-estruturais, comunicacionais e sociais presentes em nossas cidades. As novas práticas de mobilização social, smart mobs, embora imprevisíveis, efêmeras e sem necessidade de um vínculo permanente com uma causa, conseguem através do uso de dispositivos digitais móveis gerarem efeitos que modificam politicamente o local onde ela acontece. Sendo assim uma nova possibilidade de manifestação sociopolítica com o uso das tecnologias digitais móveis.

Um comentário:

Anônimo disse...

leggere l'intero blog, pretty good